Desculpe, você tem de morrer
Enquanto borrifo as plantas
Penso nas manchetes policiais
E nas entrevistas na delegacia
De programas sensacionalistas
Quantas noites
Vendo novelas na Globo
Ou assistindo filmes na Netflix
E você andando pelos bares
Tantas viagens
Convenções
Encontros de negócios
Premiações
O celular mudo quase sempre
Chega vem para a cama
Deita e dorme
Nem se lava
Na mesa da cozinha
Os pratos vazios
E a comida fria na panela
Sempre sem fome
Quero que você morra
Lentamente
Com o sangue gotejando
No tapete do quarto
Então terá tempo para me ouvir
Sobre os sonhos que não tive
Sobre o carnaval de Recife
Sobre Paris na primavera
Não ache que vou falar
mal do passado
Tivemos bons momentos
Eu amei demais
Agora não mais sua voz
Ecoará como trovão pelo apartamento
Não mais sua mão de cão
Se levantará contra meu rosto
Você deve saber
que não se deve brincar com a poesia
Pelo bem de tudo que tivemos
Desculpe você tem de morrer