Desculpe, você tem de morrer

Enquanto borrifo as plantas

Penso nas manchetes policiais

E nas entrevistas na delegacia

De programas sensacionalistas

Quantas noites

Vendo novelas na Globo

Ou assistindo filmes na Netflix

E você andando pelos bares

Tantas viagens

Convenções

Encontros de negócios

Premiações

O celular mudo quase sempre

Chega vem para a cama

Deita e dorme

Nem se lava

Na mesa da cozinha

Os pratos vazios

E a comida fria na panela

Sempre sem fome

Quero que você morra

Lentamente

Com o sangue gotejando

No tapete do quarto

Então terá tempo para me ouvir

Sobre os sonhos que não tive

Sobre o carnaval de Recife

Sobre Paris na primavera

Não ache que vou falar

mal do passado

Tivemos bons momentos

Eu amei demais

Agora não mais sua voz

Ecoará como trovão pelo apartamento

Não mais sua mão de cão

Se levantará contra meu rosto

Você deve saber

que não se deve brincar com a poesia

Pelo bem de tudo que tivemos

Desculpe você tem de morrer

carlos assis
Enviado por carlos assis em 17/02/2020
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