Memórias

Era terça-feira. Fevereiro. Os resquícios do verão ainda eram intensos. Fazia muito calor. Muito calor, no último quarto do corredor. Se fecho os olhos, vejo flashes do que hoje se tornou passado. O clima inicial dos olhos percorrendo cada centímetro do corpo do outro, ainda que discreto, permaneceu até o último espasmo. Como se fosse agora, revivo a minha camiseta caindo ao chão, as minhas vergonhas a mostra e o ato de tentar esconde-las... Como se só existisse beleza em mim, você me disse "deixa eu ver você". Depois daquele dia você me viu de todos os jeitos. Meus trejeitos. Cada centímetro de fraqueza, da alma e do corpo. Você me revirou por inteira. Ainda posso sentir tua pelve contra a minha. Revivo cada centímetro do teu rosto, os teus lábios... Não sou capaz de reviver nosso último momento juntos, nossos lábios unidos. Porque a vida é assim, um certo dia um alguém sai da nossa vida sem ao menos se despedir. Vivenciamos um último momento sem saber de que se trata do último. Apesar disso, não olhamos para trás. A angústia da falta de certeza, no entanto, corrói tudo aquilo que eu tenho de bom, a esperança e a alegria de saber que um dia foste meu...

Taciane Ienk
Enviado por Taciane Ienk em 12/05/2020
Reeditado em 17/05/2020
Código do texto: T6945025
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