A Paixão

I

Como a onça e seus olhos amarelos

Que prepara o bote com destreza

E se atira certeira sobre a presa

Ela vem, toda envolta em mistérios

Num enredo de sonhos e castelos

Sufocando seu lânguido desejo

Supre a fome que é prato e não sobejo

Enlaçando em sua teia, sua rede

Facinando, sacia nossa sede

É assim a paixão, como eu a vejo.

II

É uma cela sem trancas nem porteiras

É um fogo pra nunca se apagar

Uma força pra tudo transformar

Um quebrar de obstáculos e barreiras

Se elevando ao infinito das fronteiras

Como um trem pelos trilhos fumegando

Esse trem sempre ali resfolegando

No afã de comer toda a estrada

A paixão vem de vez, desavisada

Noutro ser logo vai nos transformando

III

Seja homem, mulher, velho ou menino

A paixão quando vem pega de açoite

É de dia, de tarde é de noite

Modifica, transforma o destino

Inebria, nos faz perder o tino

É um sonho, um não querer acordar

É tormenta querendo sossegar

Entorpece o corpo, os sentidos

Silencia o mais alto dos gemidos

Fogo factuo que não quer se apagar