Amaremorto
Morta, a folha se solta.
Voa, não volta, vai solta,
sem rota, à toa e torta,
até tocar a terra, morta.
Morta, a flor não perfuma,
não enfeita nem deslumbra
pétalas pendem, peso pluma,
e afunda na terra, morta.
Morta, a planta despenca.
Murcha, descora, se apequena.
Não cura nem ornamenta.
Desfaz-se na terra, morta.
Roto, o amor roda solto,
corda em volta do pescoço,
alma estilhaçada no corpo,
precisando só de um sopro
pra tombar cego, seco, sujo,
sobre o solo, morto e desnudo.