PRIMEIRA PEDRA

Responda-me,

por que esse corte em teu pescoço,

(os cabelos escondem)

se ninguém atirou a primeira pedra?

Por que essa lesão no braço,

(podem confundir, mas é ferida)

se ninguém atirou a pedra?

Por que esse corte na tua boca,

(a cicatriz afetou teu sorriso)

se ninguém atirou ainda aquela pedra?

Há feridas que surgem antes,

esperam as pedras,

são iguais aos desejos,

penetram em nossa carne

esperam o fascínio, o encantamento, o amor.

O fascínio mesmo apedrejará,

mas é o estilhaço do desejo

que antes racha a tua vida;

o encantamento mesmo apedrejará

mas é o caco do desejo

que antes arrasa o teu corpo largado.

Tantas ilusões...

O amor mesmo apedrejará

mas é o desejo,

que antes fragmenta o teu destino,

quebra os teus ossos,

no princípio articulados.

Os desejos surgem avassaladores

e depois, em algum momento, tudo se atira.

Fascínio, encantamento, amor:

a primeira, a segunda

e a imensa terceira pedra.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 15/09/2020
Reeditado em 10/06/2024
Código do texto: T7063490
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