DOSSIÊ POÉTICO
Eu vi o sol incendiar o matutino
Eu vi o orvalho pousar na varanda
Eu vi o amor pulsar em desatino
Eu vi a lua! Vi os céus! Vi Fernanda!!
Tu és tão bela que invejas até Narciso
estremecido afã, desejos solitários...
Queria um verso que soasse mais preciso como pureza sacra
dos velhos santuários.
És o auge,
o apogeu da primavera !
A boca é porta cerrada de um aço.
Por tua força e clareza
tão sincera , despojas até
as grandes obras de Picasso.
O que comparar a teu adorável ser ?
Se me esbarro , permanente agonia?
De te buscar, eu pude compreender:
Ės a noção real da própria poesia!
Tens o alindar tal qual a Sulamita.
Minhas palavras para ti é quase nada.
Macula a alma deste bardo sonhador
e no entanto, vives assim, imaculada.
Ah! Meu Cristo,
Meu Senhor, se me ouvirdes,
piedades tenhas, deste íntimo clamor.
Sou vítima, pobre réu, sou inocente
da suprema excelência deste amor.
Quanto mais silencio, nela penso.
Corrói minhas entranhas,
como seu coração se ganha?
Se eu tivesse a intrepidez de me atrever
eu diria no ato; Amo você.
Mas a timidez, a insegurança
são bruscos freios ,dos anseios deste meu fascínio.
Se eu fosse louco,
montaria em um cavalo cedo
e logo invadiria seu condomínio.
Gritaria bem alto, em estilo medieval
algo que calar não consigo:
-Amor, essa vida só terá razão
se viverdes para sempre comigo.
Pelas declarações continuas,
chamariam a polícia !
Que chegando, interrogaria
o que sucedeu ?
Todos protestariam em uma só voz:
- É este último Romeu!
Se eu algemado fosse
e perguntassem meu crime, eu sei!
Dirias na frente de todos:
Amei, amei e amei...
E se já sem provas concretas
o delegado resolvesse me soltar
confesso, ainda estaria preso
pela luz do teu olhar.
Eu seria banido por causa do amor,
mas seria elogiado por todo sujeito
que também um dia quando amou
não soube guardar a chama no peito.
Alguém ergueria
uma estátua a minha pessoa
com dizeres que a alma descamba:
- Eis o poeta que um dia na vida
desejou conquistar a Fernanda...
E a universalidade do acontecimento
chegaria nas páginas da internet.
Quando os jovens
enamorados acabassem de ler
outro grupo gritaria: Repete.
Mas hesito, por temer sua esquivança
e a mente, o ser, sofrem distúrbio
e de tanto lacrimejar, fazer meu leito
inundar tal qual as águas do Danúbio.
Porque não imagino eu desapropriado
do luzidio movente , afasto essa idéia.
Seria eu lobo noturno a uivar saudades
noturnas da sua alcatéia.
Cravou-me, estilhaços do amor
na galáxia do peito nascidos
insistem viver no ardor dessas horas
os sonhos que não foram vividos.
Ah! Eu vejo cisnes no lago dourado,
o mundo não tem essa percepção.
Ela chegou, me iludiu, tão sonora
não pude evitar a gestação.
Romantizo nossas mãos unidas
toda complexidade real, se arranca.
Eu sou a terra profunda, aberta
ela a flor, minha flor, rosa branca.
Ela é pérola, tesouro que busco !
Passo a noite em um claro,
perco o sono...
Tentando achar suas estruturas
nas estrelas infinitas de outono.
Escrevo este longo poema
como a arte expressiva de Monet
como se projetasse na tela do céu
para que na terra, pudesse ler.
Os e-mails dos meus olhos dizem coisas ,falta-me a tradução
em sapiência...
Nem mesmo Freud
com toda psicanálise !
Nem mesmo Eistens
sabedor de tal ciência !
Nem mesmo a mais fantástica teoria.
Nem mesmo a mais afinada banda
pode traduzir o que senti
desde quando conheci Fernanda!
Nem a emoção dos clássicos de futebol
Nem o cívico hino nacional
É se formasse em mim luzes
como as luzes benditas de natal.
É como mãe que tem primeiro filho
É como pássaro aprendendo a librar
como se eu acordasse
e não quisesse mais dormir
como se eu dormindo,
não quisesse acordar
É como se eu gemesse a vida toda.
Ė como se o rumo chegasse ao fim.
Ė como se ela fosse toda parte,
a outra parte que faltava em mim.
Ó dirão, delírio obcecado de loucura,
mas falar dela, eu não me privo.
Insisto em dizer, ela é sinônimo
meu abrigo, meu amor, meu coletivo.
Ela é a sinfonia que embala minha hora
manto que meu corpo frio aquece.
Lembrança que nunca passa.
Imagem que nunca se esquece.
Eu vi o sol incendiar o matutino.
Eu vi o orvalho pousar na varanda.
Eu vi o amor pulsar em desatino.
Eu vi a lua!Vi os céus! Vi Fernanda!