MEUS DIAS DE DANTE
quando parti
deixei retalhos de mim
espalhados pela casa toda;
pedaços meus
grudados em cada contorno dos móveis,
no silêncio dos quartos vazios
ecoava minha voz rouca e desafinada,
entre as paredes brancas e,
às vezes, rabiscadas,
dava para sentir o fantasma de minha alma passando como uma sombra na noite vazia,
no último trancar dos portões,
ouvi suas vozes, ainda dormentes,
e cada sílaba delas
coincidia com o ritmo dos meus passos,
estrada afora,
como uma agulha afiada fincando carnes e ossos!
doeu a saudade, e ainda dói ela,
por tempo segui Dante pelas entranhas do seu inferno,
sofri e chorei, de inverno a inverno,
mas para ficar em pé e sorrir de novo,
dobrei os joelhos noites e noites solitárias,
e ainda estou aqui,
pois, para me derrubar,
tem que ser mais forte do que a Mão que segura,
Pai!