Tudo sobre meu pai

Meu pai meu pai

Sou filho de Benito Mussoline

Carrego deste ícone o fardo

Mas meu nome é Luís Carlos

Aquele da coluna Prestes

Pai, seu fardo foi mais pesado

Nasceu com o estigma do fascismo

Morreu comunista e injustiçado

Somos feito lua e sol

Nos desencontramos entre penumbra e luz

Enfeitiçados pelo capricho do tempo

Tudo quanto existe guarda recôndita

Semente sombria do seu oposto

Pai sua semente caiu em terra fértil

Eu vi de tudo que o mundo tem de mostrar

Plantei letras feito agricultor de sonhos

Beijei mais bocas do que deveria beijar

Mas permaneço dual como me concebeu

Sou macho no corpo e mulher na alma

Caminho nas sombras e me aqueço ao sol

Contemplo a vida banhado em luar

Sou o melhor amante e o pior inimigo

Que qualquer desavisado possa encontrar

Caminho na linha cinzenta entre amor e ódio

Que a tua ausência me fez caminhar

Pai te amei tanto por me ensinar a rezar

E por ler Olavo Bilac como canção de ninar

E lhe odiei tanto por tão cedo me deixar

Tantas noites de abandono que tive de calar

Na garganta o choro que queria externar

A Cada lágrima contida plantei uma flor

Colori o mundo tanto quanto pude semear

Encontro seu semblante triste na fumaça

Pai perdão eu voltei a fumar

Filho tenha todas as mulheres do mundo

Isso não é conselho de se dar

Embora tenha me divertido no caminho

Tenho mais dores que amores a celebrar

Pai esse poema não era seu

Mas a caneta se pôs a escrever

Coisas que não tinha planejado declarar

Publico hoje o seu legado

E o poema deverei renomear

Pai sua prole é forte sua neta é rica

Tão cedo não iremos nos encontrar

Meu pai, meu pai