O gosto quente
O gosto quente
Que queima a boca da gente
humedecido
Pela vontade
Pela vaidade
Pelo gemido
Pelo gosto diferente
Que gosto quente
Que trembla as canelas cinzentas
Do muleque novo ainda
Que recém descobre o gosto de língua
Desejando as incertezas
De que daqui pra frente é só rasteiras
De amor e suas maneiras
Ele quer o gosto quente
Como eu quis até hoje
Me colocando em versos
Enfilheirando me em tempos curtos de felicidade
E me despencando em realidades
borradas em papel branco
Como o leite que a mosca bota a bunda
Ploriferando o virus que há de me matar.
Que gosto de saudade
É tão quente
Mas não me priva do gelo da manhã
Do café frio das terças feiras
E do resto da semana que morro lentamente
Tendo saudades demais
Do gostinho quente
Da boca que jamais imaginei escutar
O contrario de amor
E que hoje em dia lambe as linhas
Dos meus textos de gaveta
E outros corpos e almas
Outras bocas e outros poemas.