Confessei o meu amor

No perfil do meu rosto

As marcas das certezas biológicas

E das incertezas impacientes de viver.

Fitando o amanhã indiviso

e pensando entre o desalinho dos meus cabelos

surgem brotos de vontade que não posso controlar.

Revisão de um passado recente

Cronológico, analógico.

No ar a fragrância de notas amadeiradas

Camisa usada, manchada com batom

Das horas em que confessei o meu amor.

Em minhas mãos, sinal do tempo,

Doação e doçura

Rigidez e candura.

Notas musicais, lembranças do desfalecer-me

Na maciez do seu abraço.

Exalo cheiro de lavanda.

No meu corpo solitário

Revela-se a sua presença

Pois que sou toda pensamento

Ilusório

E com meus olhos côncavos

Releio minhas palavras

E com minhas palavras

Reflito minhas palavras

Superfície sem arestas

Não tenho onde esconder-me

Sou eu, no perfil do meu rosto

No meu rosto, sou gosto

Sou tosca e elegante

Sou sua amante, presença constante

Tempo morno, verão

Completa felicidade das flores regadas

Nos vasos esparsos

Dispostos no meu quintal

Tenho tantas palavras

- uma grande subtração –

Sua ausência no reflexo que vejo agora.

Valéria Britto
Enviado por Valéria Britto em 04/12/2007
Código do texto: T763767
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