Ode ao Amor

Amai! Amai assim...

Eis a ação premente, precípua, urgente!

Pois que a alegria do amor é amar!

Pouco importa ao amor

Além do próprio amar!

Que vale à roseira se não doar de si mesma, as flores

O doce inebriante perfume?

Que vale mais do que a festa, além do tempo doado em primorosos detalhes, para a memória guardar os sabores, a música, a dança?

O Amor é a festa!

O amar é o consumir-se em prepará-la...

Para que fique ainda depois de finda.

Que importa o mundo, as loucuras vis do poder temporal, diante do amor?

As mais louváveis intenções são mero adorno, se o motivo íntimo não é o Amor do próprio Amor!

Fabrico o meu embornal

Para enchê-lo dos pequenos nadas que são meu tudo!

Posto que os nadas do amor são a nutrição dos amantes.

Basta, porém, ao amado o olhar

Feito Céu de estrelas

E estarão ambos nutridos...

Nada além de amar importa ao Devoto

Que ama a Deus

Na pessoa do amante

No fruir de cada instante.

Amor que ama sem pressa

Sem nada pedir além de amar

Amar sem desejar

Amar sem a ilusão da posse.

Amor inocente amor...

Gorjeios de pardais

Nos beirais das catedrais

Na suave ardência da tarde

Que descamba...

Oh! Amai assim amai assim

E tereis a conquista de uma felicidade calma e santa

Constante e serena,

Quando o desejo é apenas

Uma chama no templo,

Guardada na divina pira: o coração do Amante!

Não mais o devastador incêndio

Não mais o absinto mortal

Que derrota as mais caras afeições

Mas a ressurreição

A transcendência

O Ágape!

Não mais a morte,

Senão o Amor

Único sobrevivente

Integrador das polaridades

Ao vencedor de Si mesmo,

Aquele que Serve

E no serviço se aprimora

Servo do Amor

Escravo gentil

Servil mensageiro

Da bonança...

Da Alegria sem fim

Do Amor Imortal!

Ení Gonçalves

28/10/2022