Poema do afazer

Há dias que me ponho a coser minhas tristezas

Chorando o imundo de minh’alma.

Numa canção fúnebre baila o verde das árvores.

Ouve-se entre uma multidão de lírios os soluços de um anjo.

“Por um amor sem causa ou por causa de um amor”.

Doe coser suas próprias tristezas.

Qual ferroadas de abelha a agulha me vara os dedos

Manchando a sangue o tecido alvo.

Ponho-me a estender sobre meu leito

Minha cândida brancura e adormeço para

Coser no dia seguinte apenas alegria, a felicidade efêmera,

Retalhos coloridos puídos pelo tempo.

Poetizo como um homem a caiar sua casa

Sou poeta cosedor de palavras

E dentro do meu poema habito.

Belo Horizonte, 26 de junho de 2006

Rodrigo Ribeiro
Enviado por Rodrigo Ribeiro em 15/12/2007
Código do texto: T779213