Noturno

Vejo-o passar entre luzes e sons.

Seus passos se confundem com minhas reticências...

Eu apenas o vejo passar.

Entre minhas mãos escondo meu medo e em meus olhos,

o escondo...

Perco as palavras na tentativa de dizer da minha saudade...

Na tentativa de ser apenas uma daquelas luzes...

O silêncio me envolve e cega...

E dentro de mim não resta mais nada...

Só esse momento tão meu.

Vejo-o passar como passa uma canção...

Sinto-o como se cada instante fosse eterno...

Ele simplesmente passa por mim e pelo escuro.

Caminha só e tem o mundo ao seu redor.

Aqui estou eu sem mundo e só ele... ao meu redor.

Não há mais ninguém...

Meu olhar se desvia mas não o perde de vista.

Sei bem onde ele está...

Segue como se não temesse nada...

Segue com passos que desafiam os meus...

Permaneço inerte e mortificada por sua vida

que espreita a minha.

Sigo imóvel temendo seu olhar em mim... ou não.

E ele some entre o escuro dessa noite tola...

E some dentro do meu medo de segui-lo.

E se vai pra onde não posso mais acompanhá-lo

com os olhos.

Mas permanece onde posso encontrá-lo sempre...

Se eu pudesse reprimir essa saudade absurda...

Se eu pudesse deixá-lo e não ser tão insana...

Ah! Se eu pudesse ser o que ele procura...

Silvia Coutinho
Enviado por Silvia Coutinho em 16/12/2007
Reeditado em 08/10/2020
Código do texto: T781145
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