O AMOR SAGRADO DE ÍSIS E OSÍRIS (LÁGRIMAS DE ÍSIS)

Nascemos do amor de Geb e Nut,

do ventre fecundo de nossa Mãe Terra.

Guardas contigo o segredo da vida

que faz germinar a força que encerra

cada semente que lanças no tempo.

A sabedoria que vive em teu ser

faz de ti pai da antiga era

e ensinas cada filho a viver.

Deste-me a luz de meus dias e noites

De teus braços o aconchego e o carinho.

De teus olhos o amor verdadeiro.

Ensinaste-me a seguir o caminho.

Foste o sol a aquecer a minh'alma,

a amanhecer o dia em mim.

Foste a paz da noite estrelada

e o perfume da flor de jasmim.

Mas quando a inveja tocou nosso irmão

e numa festa o jogo fatal

tirou-te a vida, roubou-me a luz,

ferindo pra sempre o amor imortal,

foi como se o Céu, em lamentos sem fim,

deixasse de amar a Terra e partisse,

deixando cair as estrelas no chão

e a Lua, assustada, ao léu fugisse.

Jogado às águas escuras e frias,

descendo o Nilo como uma barca,

preso e confuso sobre teu destino,

foste levado em tua arca.

Por todo o planeta procurei por ti

clamando aos deuses que te encontrasse.

O tempo passava, mas não a esperança

de que em algum dia minha dor passasse.

E foi nas raízes de um tamarindeiro

que tu, deus-rei do Egito, tiveste abrigo.

Depois sustentaste com força e beleza

o palácio de um rei bondoso e amigo.

Implorei a ele que me deixasse

levar-te de volta ao nosso lar.

Minhas lágrimas puras tocaram a alma

daquele que ouvira minh'alma chorar.

Durante dias velei por ti

atenta, de Set, a te proteger.

Mas foi num momento de breve dormir

que ele novamente veio ofender

o amor divino que nos unia.

Em catorze pedaços ele partiu

teu corpo, deus-rei, teu divino corpo

enterrando, cada um, com um ódio frio.

De novo parti à tua procura

e cada pedaço desenterrei,

unindo outra vez uma à outra parte,

aos deuses do Céu e da Terra chorei.

Comovidos os deuses, também a chorar,

deram-me asas que abanei

e o sopro que delas voou para ti

fez-te renascer e por isso cantei.

Enquanto cantava vivi como deusa.

De meu coração brotava a pureza

do amor pelo amante-irmão ressuscitado,

enterrando a dor, a saudade, a tristeza.

Enquanto vivias, fecundaste-me um filho.

Teu sangue, então, pra sempre reinaria

no corpo de Hórus, nosso filho querido

que luta em teu nome de noite e de dia.

Voltaste, então, ao mundo dos mortos

levando contigo o mistério do além

Ensinando aos homens da infância do mundo

que o amor sobrevive e a alma também.

Osíris amado, irmão e amante

Receba os mortos com tua bondade.

Em teu coração inocente e puro

bate a glória da divindade.

Que eu possa morrer e ao teu lado viver.

Amo-te sempre, apaixonadamente.

As trevas fogem à luz de tua alma

que vive em mim eternamente...