Passos noturnos

... essa espera do que atordoa, mas que é tão desejado, como os sonhos noturnos que se esvaem na claridade do dia, mas sua sombra, a lembrança que temos deles, nos faz seguir os passos que ansiamos, que apenas imaginamos. O som dos saltos pelas calçadas que na noite tomam forma e cores e nos soam tão próximos...

Deito meus passos lépidos no teu sonho

e me segue pelas vias do absurdo,

vem no dentro ao som do que componho,

fareja o meu cheiro e, ao juízo, se faz surdo.

Desenha loas como quem poeta ao vento

e em mim busca a aurora boreal;

me dá cores e cortes, assopro e unguento

e me quer carne crua, selvagem, animal.

Busca na madrugada o que mais te apetece,

como eu fora a comida a servir o teu prato,

arruma a mesa com o pano que tece

e na cama me espera com o meu desacato.

E me sonha de novo e de novo me quer

e se mostra, insinua, me chama: vadia!

me cheira em tua fronha com outra mulher

e anseia que a noite nunca seja dia;

me quer, me deseja, me chama, me bole,

me vem na conquista deitando teu verso,

não há outra que sangre nem que tanto console,

como eu, que te entro até no reverso.

E meus passos soados, suam e toam

no emaranhado dos pelos que tua mão acarinha,

é na carne dourada que teus sonhos mais sonham

o meu andar indolente onde dorme e se aninha...

Sampa, 28.01.2008

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