AINDA HÁ CHANCE DE RECOMEÇAR
Olhei para o céu com uma ânsia de chorar
E minhas palavras se moveram contra mim,
E meus pensamentos queriam fugir
Coloquei frente ao rol da porta, o prefácio da nossa história
Um vidro quebrado, um rosto desfigurado...
E meus versos setembrinos deixaram-se etéreos
E meus fulcros alicerces acabaram-se cinéreos
As andorinhas voavam no céu anil
Eu tentei chorar, mas as lágrimas se ocultaram
E vislumbrei teu rosto calado, hirto e sombrio
Mas não era eu, era eu em você...
Não, não era você, talvez você em mim...
Nossos caminhos amalgamados pela volúpia que me tomava assaz
E eu disse: “Será que ainda há chance de recomeçar?”
Os corvos cantavam seduzidos pela minha tristeza
Os campos secavam diluídos pela tua beleza
E o verde das matas se jogava cimério dentro daquele espelho
Olhei para mim, mas só via você... Eu era você...
O orvalho de todas as chuvas esparramava-se em meu suor
As manhãs derradeiras, o crepúsculo que osculava toda tarde
A noitinha que trazia a brisa dos amantes...
Ah! Eu queria deixar-me e assim me levou adejante os ares
Os éolos ruflos do ar...Quimeras tentaram me fazer desistir,
Mas eu queria saber a verdade que havia em cada suspiro,
A verdade que havia em cada sussurrar aos ouvidos,
A cada pôr do sol, a cada beijo que se dava ao silêncio dos olhos
Então veio dos segredos dos mares, um vento mui forte e me disse
“Vale a pena!” E me jogou como a um indigente aos olhos da aurora
Eu via o alvorecer se despir e me despi diante aquele espelho
E notei minha face mudando-se num sorriso angelical
Lá estava minha alma refletida em mim...
Eu era eu, não apenas aquele outro ser. E sorri, satisfeito...
“Sim”, bradei feliz ao espelho quebrado, “Devolva a relva do campo
O sorriso do mar, e a vontade de continuar, do ocultar-se no silêncio do amor”
E os corvos em seus ares alados gritaram no céu anil...
“Ainda há chance de recomeçar...”
“Ainda há chance de recomeçar...”