A imagem estúpida do medo
Me olha,
e esquece o que está além de nós dois;
deixa todos os seus problemas para depois,
e dedica a si mesmo um agradável degredo.
Não tema,
o mundo não pára de girar por conta da gente;
por isso, se mostra, me encara de frente
e arranca a máscara cinzenta do medo.
Me embala,
e no longo dos meus cabelos deslize a sua mão.
Não se apresse, nem se exiba, coração;
deixa tudo ir acontecendo feito segredo.
Se aproxima,
e me enlaça como se nunca mais me fosse largar,
e, devagar, me conduz para onde possa rasgar
as vestes esfarrapadas do medo.
Me beija;
não hesite em sua vontade nem mais um segundo.
Meu corpo está à espera, sua alma é um poço aberto e profundo,
que decerto, não se fechará assim tão cedo...!
E, finalmente, me ama,
como se esta fosse a primeira e última vez,
e como se fosse mais fácil suportar a ousadia em sua nudez
do que assumir a imagem estúpida do medo.