Ainda guardo a flor que beijaste
AINDA GUARDO A FLOR QUE BEIJASTE
Ainda guardo a flor que beijaste
com os lábios rubros de batom,
rubros como a rosa que beijaste
na noite em que visitamos o lar da poesia
onde o tempo dos relógios
já não é importante.
Entre copos e baganas de cigarro,
estava lá o teu semblante
de jovem feiticeira, cultuadora
do rito ancestral celta.
Ainda guardo os brindes que erguemos
a não sei o quê,
mas eram sincera comunhão
do bardo com a sacerdotisa.
Ainda guardo as confidências
que trocamos na mesa do bar
e o abraço em que seguimos pela rua
com o passo levemente ébrio.
Ainda guardo a flor que beijaste,
flor que murchará, pela ação
do impiedoso tempo,
que não tem tempo para prestar atenção
na beleza das flores e das mulheres,
e que um dia quererá fazer murchar
a lembrança dessa noite.
Mas essa flor que beijaste,
ficará como uma lembrança esquecida
no meio de um livro qualquer,
mas é maior a intensidade do momento
que nos prova que estamos vivos.
Ainda guardo a flor que beijaste...
Fábio Souza das Neves