Ainda guardo a flor que beijaste

AINDA GUARDO A FLOR QUE BEIJASTE

Ainda guardo a flor que beijaste

com os lábios rubros de batom,

rubros como a rosa que beijaste

na noite em que visitamos o lar da poesia

onde o tempo dos relógios

já não é importante.

Entre copos e baganas de cigarro,

estava lá o teu semblante

de jovem feiticeira, cultuadora

do rito ancestral celta.

Ainda guardo os brindes que erguemos

a não sei o quê,

mas eram sincera comunhão

do bardo com a sacerdotisa.

Ainda guardo as confidências

que trocamos na mesa do bar

e o abraço em que seguimos pela rua

com o passo levemente ébrio.

Ainda guardo a flor que beijaste,

flor que murchará, pela ação

do impiedoso tempo,

que não tem tempo para prestar atenção

na beleza das flores e das mulheres,

e que um dia quererá fazer murchar

a lembrança dessa noite.

Mas essa flor que beijaste,

ficará como uma lembrança esquecida

no meio de um livro qualquer,

mas é maior a intensidade do momento

que nos prova que estamos vivos.

Ainda guardo a flor que beijaste...

Fábio Souza das Neves

Fábio Souza das Neves
Enviado por Fábio Souza das Neves em 21/05/2008
Código do texto: T999815