TEUS OLHOS

Um dia, distante,

trocamos olhares,

tímidos, furtivos,

apaixonados depois.

Casados,

frutos vieram,

de feliz união,

e os olhares,

ainda doces,

meigos se tornaram,

na condição de mãe,

ao amamentar seus filhos.

E depois,

de um fruto do amor,

netinhos vieram,

temperos gostosos,

dádivas de Deus,

e mesmo assim,

os seus olhares,

mais divididos,

muito sobravam,

para quem escolhestes.

no entanto,

na doença,

no sofrimento e na dor,

os teus olhos,

esmaecidos e tristes,

quase sem brilho,

foram se indo,

e no seu findar,

para meu desespero,

se fecharam,

sem antes me ver.

No entanto,

suas córneas,

peregrinas,

em outros olhos,

não sei onde,

se perto ou longe,

brilham de novo,

e um dia,

também vão trocar,

olhares furtivos,

tímidos, em princípio,

apaixonados depois,

assim como,

um dia distante,

também nós fizemos.

(Essa poesia composta por Jairo Válio em homenagem a sua falecida esposa Ondina, fez parte da campanha de doação de córneas do Banco de Olhos de Sorocaba).