Como Manuel Bandeira e Pablo Neruda

Queria escrever como Manuel Bandeira,

Queria ser conhecida como Pablo Neruda...

Decifrar os enigmas de sentimentos

À sombra de noites quentes e estreladas.

Quem mais poderia eu mencionar

Que não fossem tão famosos e vivazes,

Pois cunhavam suas letras bem formadas

Em papeis rotos, desbotados e fugazes.

Sabiam falar claramente suas ideias,

Pontilhavam aqui e ali encantos mil,

Gostavam de declarar não à aflição,

Mesmo convivendo com amigos em solidão.

Queria escrever como Manuel Bandeira,

Queria ser conhecida como Pablo Neruda...

Perceber o rio preso em seu leito,

Chorando sua cálida angústia rouca.

Saber sustentar a beleza da alegria,

Afastar o mau vento traiçoeiro dos versos,

Governar as palavras com diplomacia

A cada vez que fossem esquecidas.

Ah, Manuel! Ah, Neruda!

Vocês não morreram, ausentaram-se.

Estão vivos em seus poemas

Como um clarão que guarda a neblina,

Como o outono a dissipar suas vozes.

E nesse transe que atravessa a avenida

Entre duas alamedas de nostalgia e segredo,

Vou sonhando que moro nelas,

Na comoção de escrever como Bandeira

E de ser conhecida como Neruda.

São Paulo, 15 de abril de 2009. Marcela de Baumont

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 15/04/2009
Código do texto: T1540911
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