ESPELHO DO TOUCADOR
Quando uma mulher se solta,
e aos seus cabelos longos,
algo acontece de se ver.
De se ver, não de se tocar.
É que o mundo se acende no ato,
e, luminescentemente, clareia,
aplacando-se à qualquer cizânia,
quando a Penélope se penteia.
Dá-nos a vida um fugaz momento,
no vislumbrar da mulher
aos aprontos para o adormecer.
Não é o corpo, receptor de todo engano,
nem a noite, suave fim da chegança,
mas, sim, o gesto da mulher ao toucador,
um dar de mãos displicente, lânguido
e lancetador, deslizando seus dedos
pelas melenas. Este sim é um sublime
alumbramento que nos conduz à idéia
de perfeição, à qual costumamos olvidar.