Viva ! ( Homenagem a Raul Seixas)
Deixa o terno, o perfume
Larga do apego, do ciúme
Destranca tuas amarras
Liberta do medo as garras
E viva!
E se o amanhã não houver?
Se o acaso não vier?
E se descobrirem que o mundo
É somente sonho profundo
De gigante adormecido
Nas dobras disformes do Tempo?
Daí você lembrará
Do tempo distante de ontem
Das horas perdidas de hoje
Do mês, do ano passado
Findo, lindo, morto, acabado
Larga essa casca, essa pele
Que sua angustia ainda expele
Joga fora a miragem
Que o mundo gira à sua imagem
E que a vida é uma passagem:
Ela é hoje, é aqui, é agora
É onde tua alma mora
É mistério a não decifrar
Do coração o metamorfosear
Deixa o tempo, o vento, o tento
Lançar ao mar todas as incertezas
Joga fora tuas duras cruezas
Solta a voz, canta e garanta
Seu lugar ao sol, sua mina, seu farol
E viva!