RUAS
As ruas de São Paulo não respiram, transpiram!
As gotas que escorrem das suas faces,
Suas renovadas faces,
Suas pobres milionárias faces,
São suas gotas de vida!
As ruas de São Paulo são ruas sofridas!
Em faces subdesenvolvidas
Escorrem como garoa
Em alagamentos contínuos.
Águas que vêm do céu,
Lavam a alma, levam os sonhos para rios
Que nunca chegam ao mar!
As ruas de São Paulo
Nascem nas minhas esquinas e
Seguem nos cantos do mundo!
As ruas de São Paulo
São ruas de Jerusalém,
São ruas da Bagdá destruída,
São ruas da 5a. Avenida,
Ruas espirituais do Tibet,
Eletrônicas de Tóquio,
Da grande fome de Bangladesh.
Do dinheiro de Wall Street.
São ruas de Consolação e de Paraíso,
De Belas Vistas e Campos Belos,
São ruas de bexigas,
São ruas de balas achadas em jovens perdidas.
As ruas de São Paulo são ruas humanas.
São ruas de deuses pagãos,
De judeus, muçulmanos, cristãos.
São ruas baianas, mineiras,
São ruas de Copacabana,
São ruas de águas fundas, espraiadas,
Ruas de mãos calejadas.
Ruas do morro do Alemão!
Ruas do ouro e do fuzil!
As ruas de São Paulo,
Onde tênis e sandálias transitam,
São ruas abençoadas.
Esquinas iluminadas por luzes importadas
Dos automóveis de luxo.
Luzes de viajantes dos cachimbos,
Dos amantes de programa.
Da dama da noite perfumada.
Luzes da lua cheia
Que banha corpos sempre celestes!
As ruas de São Paulo
São ruas que os pés conhecem!
Ruas que nunca envelhecem!
Ruas como a Paulista, a São Luis, a Ipiranga.
Ruas marginais.
Ruas brasileiras, ruas mundanas.
Ruas coloridas, de sinais abertos,
Para destinos traçados em caminhos incertos.
Ruas italianas. Ruas migrantes. Ruas mutantes.
Ruas de felicidade. De tristeza. De saudade.
Ruas. Sempre ruas. Mas,
Acima de tudo,
Ruas nuas da minha cidade!
S. Paulo, 02 de Março 2007.
(Na Paulista os faróis já vão abrir
E um milhão de estrelas prontas prá invadir,
os jardins, onde a gente aqueceu, um coração,
manhãs frias de abril!
.....
Você sabe quantas noites eu te procurei,
nestas ruas onde andei?
Conta onde passeia hoje esse teu olhar,
Quantas fronteiras ele já cruzou,
No mundo inteiro de uma só cidade?)
(trecho de "Paulista" de Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto)