Cisne Negro

Cisne Negro (memória a Cruz e Souza)

Belo e triste canto ouvimos

Da boca em tromba retorcida

Sanguinária na cruenta vida

Boca em chamas, boca em chagas

Da negra voz, de tantas pragas

Ouvimos teu canto, enternecidos

Mais triste que o canto do piaga

Mais triste que o gemido do mutum

Mais triste que o pio da coruja

É o canto do Cisne, altivo e belo

Oh Cisne Negro! Do labor penoso

Flutuando, manso lago, tenebroso

És o germe bom da terra, algemado

N’ardente dor, de chaga insidiosa

Ouve-se teu canto, que ecoa, tão plangente

Negro poeta d’alma branca

Nascido na terra do “Desterro”

Gemendo, Oh alma suplicante!

Rebentando em estrelas de ternura

Celeste filho da extrema desventura

Flutua belo Cisne nas águas do mundo

Onde todos os cisnes serão brancos...

Apenas tu, Cisne Negro, sempiterno

Dante Negro, o poeta assinalado

O louco da loucura mais suprema

Olvidar jamais teu último feito

Poesia que guardamos

Junto ao lamento do teu último suspiro

Silêncio em tua boca de trovão

Que a negritude vem cobrir o alvor da alma.

("Versos Dispersos" pág. 29 – 11 de maio de 1976)

Edir Araujo
Enviado por Edir Araujo em 07/06/2013
Código do texto: T4329797
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