MINHAS QUATRO MULHERES
Da primeira lembro a voz
doce acento tramontano
com que falava às crianças.
Lembro o maternal carinho
que tinha por todos nós.
Lembro suas mãos macias
em minhas pernas doídas
das subidas e descidas
após um dia de trabalho
para me levantar às quatro
com estrelas inda no céu
que o trabalho me esperava.
A segunda me chegou
pelos idos de sessenta.
Ainda adolescente,
eu não pude resistir
àquela mulher de trinta
de imensos olhos azuis
como o azul do oceano.
Fui vencido e torturado
nos arroubos da paixão.
O paraíso conheci
quando seu amor maduro
me inundou o coração.
A terceira trouxe à vida
um novo tipo de amor
na aventura que é viver.
Lembro-lhe a voz infantil,
quando em febre alta ardia
"Tonta uma históia!" – pedia
e o coração aflito tentava obedecer.
Herdou de mim o carinho,
meu time de futebol,
um pouquinho de loucura
e o gosto da profissão:
o mister de ensinar.
A quarta, enfim, é redenção
que Deus reserva ao idoso
naquela hora em que o sol
já começa a declinar...
Surge o anjo encacheado
e me pega pela mão,
e me faz dançar à roda,
e me pede um passeio,
e diz: "Compra-me um sorvete!"
e exaure minhas forças
até que eu sinta, de novo,
que a vida inda habita em mim.
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Foi pensando em tais mulheres que escrevi esta canção
a que dou forma de oração para que fique completa:
Em nome da mãe, da esposa, da filha e da neta!
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