MINHAS QUATRO MULHERES

Da primeira lembro a voz

doce acento tramontano

com que falava às crianças.

Lembro o maternal carinho

que tinha por todos nós.

Lembro suas mãos macias

em minhas pernas doídas

das subidas e descidas

após um dia de trabalho

para me levantar às quatro

com estrelas inda no céu

que o trabalho me esperava.

A segunda me chegou

pelos idos de sessenta.

Ainda adolescente,

eu não pude resistir

àquela mulher de trinta

de imensos olhos azuis

como o azul do oceano.

Fui vencido e torturado

nos arroubos da paixão.

O paraíso conheci

quando seu amor maduro

me inundou o coração.

A terceira trouxe à vida

um novo tipo de amor

na aventura que é viver.

Lembro-lhe a voz infantil,

quando em febre alta ardia

"Tonta uma históia!" – pedia

e o coração aflito tentava obedecer.

Herdou de mim o carinho,

meu time de futebol,

um pouquinho de loucura

e o gosto da profissão:

o mister de ensinar.

A quarta, enfim, é redenção

que Deus reserva ao idoso

naquela hora em que o sol

já começa a declinar...

Surge o anjo encacheado

e me pega pela mão,

e me faz dançar à roda,

e me pede um passeio,

e diz: "Compra-me um sorvete!"

e exaure minhas forças

até que eu sinta, de novo,

que a vida inda habita em mim.

..............

Foi pensando em tais mulheres que escrevi esta canção

a que dou forma de oração para que fique completa:

Em nome da mãe, da esposa, da filha e da neta!

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Renato Alves
Enviado por Renato Alves em 20/02/2016
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