Março
Gosto das coisas simples
Do simples gostar
E me arrependo de não correr riscos
E ter alegrias das quais desfrutar.
Em janeiro há tanto sol
No carnaval de fevereiro.
Mas é só quando Março vem
Que deságuo por inteiro.
São suas águas, dizem
Escorrem a pureza de amar
Lavam meus deslizes
Forçando-me a acreditar
Em Deus
No amor.
Nas loucuras do mundo
Vivo o ano em março
Velejando em mar profundo.
Abril traz a Páscoa
Em dezembro tem Natal
Estouram fogos no ano novo
Nas bruxas de outubro, atração fatal...
Mas é quando Março vem
E vem brincando, rindo, cantando
Cala os nervos e solavancos
Aquieta o coração do pranto.
Vem Março, só vem!
Acende de novo
O que em abril ficou apagado.
Liberta-me do estorvo.
E na carícia da sinfonia
Deposito em Março minha alegria
Bastarda, tardia, que espanta a agonia
De um levantar sedento de esforço.