Seminu
Se um homem caminha seminu
para os braços de uma noite de inverno,
é talvez para fugir de seus tormentos
ou fazer dormir sua realidade já cansada
Se um homem pisa no chão frio das ruas
pela pouca clareza da madrugada
Pisa firme, anda reto, passos métricos,
não se deve atravessa-lo nem se aconselha mira-lo
Sua alma o arrasta como uma pedra rolante
e como tal desce o pasto o homem seminu,
no seu rastro os seus segredos sorridentes
todos afoitos e despreocupados
Ninguém sabe para onde vão,
Certeza apenas que qualquer caminho é despido
de certeza ou segurança
Por entre o escuro, não mais se vê seu vulto
Talvez apenas o enxergue, outras almas despudoradas,
filhas do excesso, que moram nos bares da madrugada
E outras duas almas solitárias não tão menos seminuas
dançam embriagadas pelas guias das ruas
Comemoram a lua a doces baforadas, altíssimas risadas
Não é uma grata surpresa que encontrem o homem de uma só peça?
A solitária peça de roupa branca que se desloca no escuro?
Sim, a madrugada é palco de todas as grandes peças já pregadas
Agora três pessoas seminuas invadem um bar de açoite
no apogeu da noite que se desloca nervosa e tensa
Ilustres personagens vindos do nada e muito em comum
Faz-se afagos, passeios e troca de casacos
Já que as almas seminuas são tímidas ao raiar do dia
Que traz consigo as mentes lúcidas, sóbrias e vazias.
* Dedicada ao amigo Delieverson L. Lemes