Ao maior canalha de quem tive a honra de ser amigo

Para Jacaré.

Lembra dos dias em que você tinha 17

e o mundo girava em torno

de seus pés?

Você comia várias

enquanto eu e o resto da galera

passava à bolacha seca

sem ki-suco.

Você nunca soube

o que é escassez de buceta,

nunca soube

o que é não ter um seio duro

para apertar e chupar à hora

que quisesse

(isso, aos 17,

é pior que padecer mil infernos).

Nunca soube

o que é não ter uma boca

sempre à disposição

para se curvar e chupar seu pau

a qualquer hora

em qualquer canto

da mesma praia onde

você comeu meio mundo.

Nunca passou aperto por buceta.

Quantos cabaços você comeu?

Você só lidou com rejeição

na hora em que a adolescência

e seus fogos infernais

já estavam cansados

da eternidade em nossa memória,

e isso é digno de orgulho.

Você era digno

de todas as honras da amizade.

Era o maior filho da puta

que conhecemos,

o mais escroto e leal filho da puta,

você mesmo não conheceu

ninguém mais filho da puta

do que você.

1,63cm de amor e maldade.

E era fácil te odiar (ah, e como era),

mas não conheço

ninguém que tenha conseguido.

Você era esperto, o mais esperto.

Suas mentiras

se tornaram verdades fantásticas,

inquestionáveis, mais ainda

porque só você acreditou nelas.

Já suas verdades,

enganadas e enganosas,

te tirou de nós.

Hoje, onze anos passados,

não passa

de um motoqueiro apressado

que saiu daqui esgotado,

esbaforido e sozinho

– com todo alarde –

sem querer levar ninguém.

Te odeio

porque pediu a última palavra

e não usou,

te odeio

porque seu silêncio é assombroso,

te odeio

porque você é quem deveria

ter ficado ,você, dez vezes você,

é quem deveria ter ficado

para me ver sair e chorar

minha ausência,

para me ver silencioso

e frio e imaginar

o que eu pensaria

da dor e do delito.

E lá onde estivesse,

eu riria da sua cara,

riria com gosto e fúria,

daria a gargalhada

mais escrota

sobre seu pranto desesperado –

como você faz comigo

todos esses anos.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 01/11/2019
Código do texto: T6784338
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.