ODE AGUIRROSA (Guimarães Rosa)

Que a minha escrita não trema

que meus lábios não emudeçam

ao deitar no inferno todos os detratores

que destilam veneno.

Louvarei o agnóstico

libertador da vida

enclausurada pela casta romana bem polida

(ah, o horror da fogueira chiando

tangida pela mão de não sei de que Puro

e a pensar, pelas cinzas, que ainda tem arbítrio!...)...

Louvarei o sonho

de um dia alimentar toda a fome do mundo,

desapropriar o carrasco

e dar ao nascer um poente nobre.

(ah, a vida galopando às doidas

nos amores sem freios

do prazer etéreo e eterno destino!...)...

Louvarei os grandes sertões

não sem o apreço ao Magma poético

e seu soberbo bibliocausto.

(ah, o prazer com que eu ainda o recitaria

a cada uma das voltas glamourosas

das eternas semanas roseanas!...)...

E só ficará comigo

a cicatriz de palavras ferinas,

atormentando os habitantes das trevas vazias.

Porque eu só preciso

da escrita livre nonada de um João alguém

da pena encantada na chapada dos Guimarães

e da beleza rubra da Rosa.

jocase
Enviado por jocase em 09/10/2007
Reeditado em 09/10/2007
Código do texto: T687580