ODE AGUIRROSA (Guimarães Rosa)
Que a minha escrita não trema
que meus lábios não emudeçam
ao deitar no inferno todos os detratores
que destilam veneno.
Louvarei o agnóstico
libertador da vida
enclausurada pela casta romana bem polida
(ah, o horror da fogueira chiando
tangida pela mão de não sei de que Puro
e a pensar, pelas cinzas, que ainda tem arbítrio!...)...
Louvarei o sonho
de um dia alimentar toda a fome do mundo,
desapropriar o carrasco
e dar ao nascer um poente nobre.
(ah, a vida galopando às doidas
nos amores sem freios
do prazer etéreo e eterno destino!...)...
Louvarei os grandes sertões
não sem o apreço ao Magma poético
e seu soberbo bibliocausto.
(ah, o prazer com que eu ainda o recitaria
a cada uma das voltas glamourosas
das eternas semanas roseanas!...)...
E só ficará comigo
a cicatriz de palavras ferinas,
atormentando os habitantes das trevas vazias.
Porque eu só preciso
da escrita livre nonada de um João alguém
da pena encantada na chapada dos Guimarães
e da beleza rubra da Rosa.