As Estrelas de Maria Flávia de Monsaraz

No vazio da penumbra dos meus sentidos

vagueiam memórias caiadas de silêncio,

saudades, palavras e gestos perdidos

que se aninham, recalcados no meu peito,

batendo como asas de Anjos adormecidos.

Uma só caricia me vem ao pensamento,

uma só vontade adorna os meus desejos,

Voltar atrás, beijar seu rosto, amar o tempo

em que nos tinhamos tão próximos, tão juntos

e que a morte nos tirou num pé de vento.

Sua voz ... essa voz calma e serena,

as púrpuras que caiam das suas mãos,

seu corpo, cheio de aves, tantas penas,

agora na paz sepulcral de um jazigo,

adormecido num ataúde d'açucenas.

E cai a madrugada sobre mim como aquela

tarde triste e tenebrosa em que partiste

do cais da minha solidão num barco à vela!

O mundo parou! Parou a vida! Parei eu

naquela casa frente à sacada da janela ...

Casa, outrora, de Poetas e de Paz!

E a janela, a sacada, aquela rua ...

... a Victor Cordon que saudades que me traz,

um tempo que não volta, voltar aos braços

das Estrelas de Maria Flávia de Monsaraz.

(Até sempre querida Maria Flávia.)