CALL CENTER POÉTICO (AOS ATENDENTES)

O fone no ouvido

O olhar na tela

Dedos no teclado

Uma voz atropela

um bocejo escondido

que quase atrapalha

um “Bom dia, senhor!”

A voz quase falha.

Como será

o rosto dessa voz?

Gritos raivosos

chegam a nós

Coração dispara

Os dedos também

O relógio pára

O sistema não vem

abrir as janelas

pra eu preencher

as falhas, o trote,

o que vem a ser.

Respiro fundo

e conto até dez

Desejo bom dia,

ao senhor Moisés!

Antes que eu descanse

vem outra chamada

“Bom dia, senhora!”

“Sua retardada!”

É o que escuto

do outro lado da linha

Em que posso ajudá-la?

“Religue minha linha!”

Conto até vinte

E respiro de novo

Pois devo atender

Com presteza esse povo