Sou a mulher que passa...
(em resposta à Vinícius de Moraes)
Sim, sou aquela mulher que passa,
que a Deus oras e pedes a toda hora,
que passa e sempre te ignora...
A mulher que vês passar todo dia,
carrega consigo uma tremanda agonia
de quem amou mais nunca foi amada,
de quem se esconde, por medo de ser enganada.
A beleza que vês é a beleza de minha dor,
que evidencia o quanto eu um dia pude amar
e que me faz não ver que me ves passar.
Minha poesia é o amor que me alimentou,
minha melancolia é a dor que se instalou
num peito desenganado pela perdição
de uma paixão inglória, sem salvação!
Sim, eu sou a mulher que passa,
que tem medo de ouvir teus galanteios precipitados,
e os doces enganos de homem apaixonado...
Medo pelos sonhos que um dia acalentei,
medo pelas mentiras das quais me embriaguei
por lábios tão poéticos como os teus o são,
e que um dia feriram de morte o meu coração.
Meu martírio é o incessante medo de sofrer novamente,
e que me impele a te tratar tão longe e friamente
Na pureza do amor sincero e maculado
e na devassidão do meu medo desconfiado.
Se és sincero no teu amar,
não fique só, quando me vires passar,
a me desejar em sua oração...
Busca-me, e me traspassa,
tornando toda a minha dor em fumaça,
e redespertando um novo amor em meu coração!