Sou a mulher que passa...

(em resposta à Vinícius de Moraes)

Sim, sou aquela mulher que passa,

que a Deus oras e pedes a toda hora,

que passa e sempre te ignora...

A mulher que vês passar todo dia,

carrega consigo uma tremanda agonia

de quem amou mais nunca foi amada,

de quem se esconde, por medo de ser enganada.

A beleza que vês é a beleza de minha dor,

que evidencia o quanto eu um dia pude amar

e que me faz não ver que me ves passar.

Minha poesia é o amor que me alimentou,

minha melancolia é a dor que se instalou

num peito desenganado pela perdição

de uma paixão inglória, sem salvação!

Sim, eu sou a mulher que passa,

que tem medo de ouvir teus galanteios precipitados,

e os doces enganos de homem apaixonado...

Medo pelos sonhos que um dia acalentei,

medo pelas mentiras das quais me embriaguei

por lábios tão poéticos como os teus o são,

e que um dia feriram de morte o meu coração.

Meu martírio é o incessante medo de sofrer novamente,

e que me impele a te tratar tão longe e friamente

Na pureza do amor sincero e maculado

e na devassidão do meu medo desconfiado.

Se és sincero no teu amar,

não fique só, quando me vires passar,

a me desejar em sua oração...

Busca-me, e me traspassa,

tornando toda a minha dor em fumaça,

e redespertando um novo amor em meu coração!

Thaís Soledade
Enviado por Thaís Soledade em 13/02/2008
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