Vida cotidiana

Gritos, lamento, a vida não pertence a ninguém

cedo nas ruas as crianças repetem o destino de ir e vir

como se soubessem que serão os próximos a cair

a bala perdida sempre encontra alguém,

se afogando na esquecida dor que alivia também

a dor maior da fome, exclusão, desapontamento

como se metáforas marcassem esse rude momento

a bala perdida sempre encontra alguém,

gritam! a criança caída aos turistas não convém

a manchete no jornal que amanhã lerão, cauterizados

diz que pessoas morrem, sofrem, destinos traçados

mas a bala perdida sempre encontra alguém,

seria a fé, a descrença, a dor, aquilo que nos mantém?

Presente, passado, infância, em vão dilacerados

da triste história dos homens este é um dos lados

porque a bala perdida sempre, sempre encontra alguém.