O RESGATE DA PAZ


Até quando contemplaremos nossa paz ser seqüestrada?
milhares de jovens encontrando nas drogas a escravidão,
pobres meninas seduzidas e aprisionadas na prostituição,
autoridades hipócritas mentindo e vivendo da corrupção
e a guerra urbana manchando de sangue o nosso chão?

Até quando assistiremos nossa fraternidade ser dizimada?
filhos assassinando os pais, irmãos assaltando os irmãos,
amigos traindo os amigos em troca de dinheiro ou promoção,
humanos descartados como lixo pelas ruas e praças da cidade,
crianças cheirando cola na fuga desesperada da cruel realidade ?

Até quando suportaremos ter nossa dignidade desrespeitada?
favelas; saúde, educação, transporte e segurança públicas falidas,
desemprego crescente e empregos contaminados pelo assédio moral,
distribuição de renda injusta e imoral privilegiando minorias favorecidas
às custas dos miseráveis rendimentos da maioria condenada à vida vegetal?

Até quando conviveremos e pagaremos o preço dos frutos de tanta injustiça?
shoppings centers luxuosos cultuando o consumo de alguns privilegiados,
violência imperando nas periferias miseráveis com tantos abandonados,
miséria traumatizando lares; jogatinas e prostíbulos em constante expansão,
pessoas honestas e decentes incluídas na lista dos animais em extinção?

Até quando inverteremos os valores do ter e do ser?
Até quando buscaremos pelos nossos reféns:
a nossa liberdade de ir e vir,
a nossa igualdade de condições
e a nossa fraternidade para repartir os pães?

Até quando celebraremos o culto do novo bezerro de ouro, o “deus mercado”?
natais de papais noeis e amigos secretos, páscoas de coelhos e ovos de chocolate,
pessoas objetos transformadas em produtos para as capas das revistas eróticas,
mídia programando as mentes dos fanáticos fiéis e consumidores idólatras,
“teologia do prazer imediato” convertendo os crentes do apocalipse do disparate?

Até quando aguardaremos omissos pelo surgimento de melhores dias?
adiando o início do mutirão da indispensável mas crucificada justiça social:
onde todos deveremos contribuir evitando o egoísmo e a prática da injustiça pessoal,
adotando a solução contida na sabedoria divina anunciada pelo profeta Isaias:
“que o fruto da justiça será a paz e a obra da justiça será a tranqüilidade”?

Para finalmente resgatarmos a maior herança que a Luz do Mundo nos doou e deixou...
há mais de dois milênios atrás...
a paz?



Esta minha poesia para minha surpresa, honra e alegria foi declamada pela amiga Maria da Conceição Medeiros Formiga, de Imperatriz, do Maranhão, então Tesoureira Adjunta do CNLB – Conselho Nacional dos Leigos do Brasil, no encerramento do IV ENCONTRO NACIONAL DO LAICATO DO BRASIL, realizado em Goiânia/GO, nos dias 19 a 21/06/2003, com a participação de mais de 450 leigas e leigas da Igreja Católica de todo o Brasil.

Em 04/06/2003 ela foi publicada no jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo/SP, e pouco tempo depois do IV Encontro Nacional de Goiânia ela também foi publicada no Boletim da CNLB que é distribuído para todo o Brasil.

Ela já foi publicada aqui no Recanto das Letras em 08/02/2006, código do texto T109508 e a estou republicando agora porque, infelizmente, o seu tema continua cada vez mais atual e a sua reflexão ainda mais necessária.


Texto atual, complementar e correlato, publicado e que eu li hoje, 28/10/2009, junto ao acróstico INDIVIDUALISMO da cara amiga e poeta ANGELICA GOUVEA, à quem eu agradeço o compartilhamento do texto e dos seus sábios ensinamentos: 


O Individualismo
(Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina/PR )

 
Os conflitos da independência começam em casa
 
Hoje confundimos pessoa, indivíduo, personalismo e individualismo. Nossa cultura está marcada pela supremacia do individualismo em detrimento do altruísmo e do personalismo. O outro, o próximo, o semelhante, o irmão, o diferente, o necessitado são colocados em segundo lugar e até descartados. O individualismo globalizado se expressa na absolutização do ter, do poder e do prazer. Os outros são perdedores, descartáveis, sobrantes, excluídos. Vejamos alguns aspectos do individualismo:

1. A
arbitrariedade. O individualismo se manifesta na arbitrariedade que é uma atitude de poder, de julgamento, de superioridade, centralidade e dominação. Quando a arbitrariedade significa desobediência, rebeldia, orgulho, entram em crise valores éticos, religiosos, sociais e a justificação dos interesses pessoais, caem as instituições, a objetividade, o bom senso e o respeito pela verdade.

2. O bem material. A pessoa individualista desvaloriza o bem comum, a justiça social, a compaixão. O dinheiro, a ambição, a ganância, o lucro é o que interessa. O "ter mais" vence o "ser mais". Cresce a indiferença pelo outro. A competição, a corrupção, a concentração dos bens aumenta a desigualdade social. Quem cai no individualismo torna-se insensível, cego, escravo de cálculos e ambições. Não se pergunta se os outros estão bem e não se interessa em ser bom para os outros.


3. A
satisfação erótica. O erotismo é filho legítimo do egoísmo individualista, do amor desordenado de si mesmo, do prazer imediato e sem compromisso que, hoje, se caracteriza pela orgasmomania e orgasmolatria, balbúrdia sexual. O machismo tem muito de egoísmo e erotismo. Acontece no erotismo a centralização do ego e a subjugação do outro, afirmação de si e a negação do outro. A espiral do erotismo abre as portas ao alcoolismo, às drogas e ao vazio existencial.

4. A
legitimação dos desejos. O consumismo, através da propaganda, trabalha com os desejos. Ora cria desejos, ora os aguça. Somos escravos de desejos desordenados. O mercado excita os desejos das crianças, jovens e adultos e os legitima como felicidade, bem-estar, autorrealização e autoprojeção. Promete mundos maravilhosos, messiânicos, efêmeros e eficazes. A vida é vivida como um espetáculo, uma satisfação de desejos, sensações e curtições.

5. A
imposição dos direitos individuais. Eu quero, eu sei, eu desejo, eu tenho direito, eu decido, eu mando. É a defesa arbitrária de direitos individuais sem compromisso ético, religioso, jurídico, social. Não podemos ser prisioneiros das modas do momento e ferir a verdade, o bem e a justiça; defendendo direitos individuais de modo arbitrário como o aborto, a eutanásia, a clonagem etc. Quem quer ser o único produtor de si mesmo acaba degradando-se.

6. A
autossuficiência. Consiste em viver sem Deus, sem mandamentos, sem família, sem matrimônio e sem a comunhão com os outros e os valores objetivos. É a indiferença pelos outros, pelas instituições, pelas normas, num narcisismo sem limites. O autossuficiente é folgado, agressivo, independente, onipotente com grande risco de tornar-se delinquente.

7. A
independência. O individualismo é egolatria, autonomia, solidão, rebeldia. Os conflitos da independência começam em casa, no namoro, na escola e no estilo de vida liberal, independente, permissivo. A pessoa pautada pela independência, assume atitudes de arrogância, arbritariedade, indiferença, antipatia e agressividade. Chega a ser antissocial e contestadora das realidades objetivas da vida.

8. O egoísmo. A centralização de si, o egocentrismo é um dos piores recalques da humanidade. Quando socializado, o egoísmo tem o nome de lucro, sucesso, consumismo, livre escolha. O que vem primeiro são as diversões, a curtição, o imediato, a estética, a dimensão lúdica da vida. O importante é o agora, o espetáculo, as distrações, o corpo.


O egoísmo globalizado gera "povos da opulência e povos da indigência", alarga as desigualdades entre ricos e pobres, o império do mercado e a iniquidade social. O egoísmo é o caminho do abismo.


Dom Orlando Brandes


Arcebispo de Londrina/PR

Fonte:
www.cancaonova.com

 

Obrigado pela visita e pelo incentivo.

Paz e Bem!

Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 28/10/2009
Reeditado em 29/10/2009
Código do texto: T1891986
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.