Rastros

Já perdi eras pensando na minha razão...

Enfrentei medos e dores em nome dela...

Arruinei vidas inteiros em nome da minha razão...

E a minha própria vida estava entre elas...

Já perdi eras contemplando a escuridão...

A ausência, o vazio, a dúvida, o horror...

Já fui um monstro brincando de amor...

Eu me lembro de dias de tempestade...

Lembro-me dos arrepios à flor da pele...

Eu me lembro da minha crueldade...

E hoje assino meus dias com estranhas sensações...

Saboreio minhas lembranças a todo instante...

Extraio brilho dos olhos dos meus amigos...

E sinto que ainda existe algo que é importante...

Sinto medo... e coragem...

Sinto o peso do ócio da vadiagem...

Sinto desejo... e embarco nessa viagem...

Preciso de um novo tempo, uma nova miragem...

Ainda me assombram os atos de monstro...

Ainda sussurram nos meus ouvidos o que profanei...

Mas eu sinto um fio de esperança em mim...

E pretendo, mais uma vez, mostrar que não há fim...

E que a vida, via verso ou não, não é uma torre de marfim.