Espectro noturno
Espectro noturno
O brilho lunar me lembra teus olhos
Refletindo o deslumbramento dos meus
E o seu fogo, que arduamente continha
O silêncio desta noite me recorda
De quando me perdi olhando-te dormir
E a colina distante, seus delicados quadris
Neste lago imensamente manso, onde me banho
Me lembro do teu ventre que não fecundei
Talvez um filho fosse o vínculo que faltava
A água que penetra minha boca
Não tem a suavidade dos teus beijos
Inumeráveis, incansáveis, e quase incontroláveis
As pétalas amareladas como a lua
Imitam a seda do lóbulo de tua orelha esquerda
Que te aprazia acariciar depois do amor
E a brisa fresca que invade este vale
Me lembra quando suavemente te soprava o corpo
Naquelas vezes em que a pele te ardia
Na gramínea penteada pelo vento
Restou a lembrança pujante dos teus cabelos
Que brilhavam de noite como as ondículas do rio
Minha alma é negra e infinita como o cosmos
Os esparsos pontos brilhantes são os momentos contigo
E esta lua é a saudade que se renova a cada ciclo noturno
Só me resta a noite como companheira
Pois, durante o dia, me empenho em apagar tua lembrança
Como uma nódoa indelevelmente presa à minha essência
(Djalma Silveira)