FOTO CARNAVALESCA EM SÉPIA

O poeta – índio estilizado,

uma cigana e um irmão sem jeito,

calça de brim com cinto afivelado,

blusão aberto ao longo do peito...

Do lenço da cigana pendem lantejoulas

que enfeitam sua tez morena,

calça sandálias, tem ar concentrado,

cabeça inclinada e feição serena...

O indiozinho com um cocar de penas

de falso apache norte-americano

usa uma longa bata de cetim

com machadinhas bordadas no pano...

Em redor das pessoas, capoeira,

no fundo, um casarão colonial,

frondosa cajazeira de que se vê só parte

dando sombra a todo o quintal...

O homem, ossudo, fita a lente sério

ar não condizente com ser carnaval.

A esta gente humilde o que parece

é estar vivendo momento especial...

Mas, confesso: há mais alguém na foto

que tento descrever neste poemeto:

vulto invisível que dos grãos em sépia

nos espia, entre o branco e o preto...

É o patriarca, grande incentivador,

que muito amava os nossos carnavais,

sempre orgulhoso dos filhos que tinha (Ditosos tempos que não voltam mais!)

O amor paterno aqui se faz presente!

sinto-o no vulto atrás desta visão,

mil vezes fixado na retina da saudade,

mil vezes ampliado na lente da emoção!

Renato Alves
Enviado por Renato Alves em 28/10/2008
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