FOTO CARNAVALESCA EM SÉPIA
O poeta – índio estilizado,
uma cigana e um irmão sem jeito,
calça de brim com cinto afivelado,
blusão aberto ao longo do peito...
Do lenço da cigana pendem lantejoulas
que enfeitam sua tez morena,
calça sandálias, tem ar concentrado,
cabeça inclinada e feição serena...
O indiozinho com um cocar de penas
de falso apache norte-americano
usa uma longa bata de cetim
com machadinhas bordadas no pano...
Em redor das pessoas, capoeira,
no fundo, um casarão colonial,
frondosa cajazeira de que se vê só parte
dando sombra a todo o quintal...
O homem, ossudo, fita a lente sério
ar não condizente com ser carnaval.
A esta gente humilde o que parece
é estar vivendo momento especial...
Mas, confesso: há mais alguém na foto
que tento descrever neste poemeto:
vulto invisível que dos grãos em sépia
nos espia, entre o branco e o preto...
É o patriarca, grande incentivador,
que muito amava os nossos carnavais,
sempre orgulhoso dos filhos que tinha (Ditosos tempos que não voltam mais!)
O amor paterno aqui se faz presente!
sinto-o no vulto atrás desta visão,
mil vezes fixado na retina da saudade,
mil vezes ampliado na lente da emoção!