CARNAVAL  NOSTÁLGICO

Até mesmo de Pierrô me fantasiei
só para abraçar a mulher amada.
A procurei pelo espaço do salão,
mas por outro palhaço apaixonada,
feriu meu coração e eu chorei
a amargura da grande desilusão.

Para esquecer rasguei a fantasia.
Lá fora já não brilhava a lua,
eis que persistia a chuva fina.
Como tolo, perambulava pela rua,
sem destino, até renascer novo dia,
tentando olvidar aquela Colombina.

Hoje as marchinhas de carnaval
não me inspiram qualquer ventura,
nem trazem o prazer e a alegria.
Salão com luminárias de cristal
são sonhos indeléveis e, a essa altura,
só puras recordações e nostalgia.

Já nem lembro mais dos confetes,
lança-perfumes e serpentinas,
mas daquele amor que magoou.
Naquele tempo de beijos à surdinas,
extravagante só as vestes de vedetes.
Como a ternura, o carnaval acabou.

Ah! Como éram alegres os blocos.
Soltavam as crianças, desde cedo,
com bisnagas coloridas a brincar.
Já parecíamos inocentes loucos,
mas somente agora temos medo
de sair com a violência a formigar.

Bandeira branca, minha cidade,
mais do que paz, peço o respeito
ao cidadão... e à dor em meu peito,
desde a mais tenra mocidade,
quando nada funcionava assim. 
Tinhamos a nossa personalidade 
e sem essa tal crise de identidade, 
nós éramos Pierrô ou Alecrim !

 
SP. 17/02/09

Fernando Alberto Couto
Enviado por Fernando Alberto Couto em 17/02/2009
Reeditado em 21/02/2020
Código do texto: T1444665
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