LEMBRANÇAS DE ANTES
Quem na partida da vida
lembra que esqueceu
de dizer adeus às bromélias
ou fugiu de trem de repente
pensando estar em Madri?
As poucas palavras roucas
encobrem a perfeição
dos gansos andando em bando
nos campos de girassóis.
E o céu se fechou em cinza
enquanto lá embaixo passavam
crianças que antes brincavam
de roda, de esconde-esconde,
de amarelinha no chão.
Pedras redondas na estrada...
Um velho bimotor está quebrado
como memória de um quadro,
como fetiche de sábio,
como nos tempos do bigode cerrado.
Por que esse tempo instável
e tantos pedindo atenção?
É falta de constância na rima,
é excesso de permissão,
ou é a mistura de ambos
que tardiamente estão fatigados?
As manchas e os riscos cortados transcendem
o leve pensamento do autor,
que busca incansável a permuta
de velhos conselhos de anciãos.
15 de janeiro de 2009.