QUERIA SER CRIANÇA

Trilhei todos os caminhos,

Alguns duros, virulentos,

Machucando meus pés,

Tantas suas sinuosidades,

Ferindo até meus conceitos.

Outros no entanto,

Suaves como a brisa,

Trilhei-os com galhardia,

Sem nenhum tropêço,

Apenas generosidades.

Queria, no entanto,

Apenas por momentos,

Nem que fossem poucos,

Horas, quem sabe até dias,

Voltar a ser criança feliz.

Instigar meu espírito moleque,

Reviver as diabruras,

Correndo solto e desimpedido,

Por todas as planícies,

Sentindo o perfume das flores.

Comer as frutas do campo com gulodice,

A pitanga madura qual favo de mel,

O araçá do campo um tanto azedinho,

O joá espinhento ferindo a boca atrevida,

E as gabirobas amarelas brilhando ao sól.

Subir em árvores com desenvoltura,

E jogar abaixo todos meus instintos,

No rio encachoeirado de águas limpinhas,

Onde mergulhava minhas impetuosidades,

E ressurgia sorrindo como em desafios.

Pisar em trilhas macias de folhas caídas,

Das árvores desnudas que o outono tirou,

E o inverno atrevido que tudo queimava,

Convidava os galhos para suas sonolências,

Para despertarem depois na primavera florida.

Sei que jamais voltarei ao passado,

Foi uma etapa da vida que curti serena,

Mas lembrá-la revigora gostosas lembranças,

E isso me basta para acalmar ansiedades,

Pois vivi encantos enquanto fui criança.

02-09-2009