Velho edifício
A plateia desce uma escadaria sem fim.
O corrimão é apertado e frio.
As paredes foram pintadas de anil
e o sol aparece pela fechadura do portão.
São tantos apartamentos socados no andar,
um corredor escuro e empoeirado lança
seu tímido olhar pela escadaria a despencar.
Cada porta traz um sinal personalizado.
Em cada janela se percebem os recortes,
os entalhes em nogueira ou carvalho envelhecido...
As chaminés não estão mais baforando
suas fumaças que se desenhavam no céu.
As cortinas se adiantam para fora à tarde,
sempre que alguma ventania chega improvisada.
Da cozinha vem o barulho das canecas de café.
No pequeno porta-chapéus, uma bengala descansa.
O rangido do assoalho é percebido abaixo,
um após o outro andar, como sinfonia da noite.
O bar na calçada fecha às 10 da noite
e os moradores se esgueiram na sombra.
Em silêncio a rua se esquiva da noite e,
pouco a pouco, os moradores se recolhem
em seu lares, em seus aconchegantes quartos.
A colcha de cetim ainda está sobre a cama.
São Paulo, 11 de janeiro de 2010.