Viver o Pai

O que é mesmo ter pai? Às vezes tento lembrar, mas pouco me lembro

Ainda lembro de guerras de travesseiro,

De pipoca doce com nescau,

Passeios pela praia...

Às vezes também lembro das ausências em meu aniversário,

das discussões e desafetos,

Lembro das diferenças e dos descontentamentos.

Sempre quis ser mais para fazê-lo engolir as palavras.

Por que será que nunca quis ser mais para fazê-lo orgulhar-se de mim?

Até que a vida o levou!

Eu tinha doze... e daí? Já pensava!

Eu tinha doze... e daí? Você não via!

Eu tinha doze... e daí? Eu queria ter mais...

... mais vida, mais autonomia, mais presença, mais amor.

O que é ter pai? Nunca soube, mas sempre sonhei.

Hoje não tenho mais a chance de saber, de ter e de viver.

Mas se hoje eu tivesse pai, acho que...

Acho não. Tenho certeza! Faria tudo diferente.

Brincaria mais de guerra de travesseiro,

comeria mais pipoca doce com nescau,

Quando ele gritasse comigo, baixaria minha voz e sussurraria “eu te amo”

Olharia para ele e com o meu silêncio abraçaria as pernas dele,

o faria sentir o amor que sinto por ele.

O tempo passou. Não há mais pai para mim, apenas lembranças.

Não há mais chance para mim, apenas sonhos de como seria.

Se eu pudesse voltar...

Acho que faria tudo de novo, afinal, não teria a falta dele,

não saberia que ele iria aos 37 anos,

não conheceria o que conheço hoje.

Mas se hoje eu tivesse pai e quisesse vivê-lo,

ainda que me doesse, iria lutar por ele e por meus sonhos,

Porque a vida passa, as pessoas passam e os pais passam,

mas a dor de não ter se permitido viver o meu pai não passará jamais!

Patricia Cardoso
Enviado por Patricia Cardoso em 11/08/2006
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