PASSARADA

Amanhece e o sól inicia seu trajeto,

a luz intensa ilumina as paisagens,

matas coloridas de flores se inebriam,

e vidas despertam do sono intenso,

revitalizadas para o dia que se inicia.

A saracura que no banhado tem morada,

acorda o sitiante ainda meio sonolento,

avisando que no mais tardar ao anoitecer,

a chuva que tanto anseia poderá cair,[

molhando a terra e as plantas exauridas.

O sabiá laranjeira pulando ligeiro no galho,

solta seu canto que emudece quem escuta,

silenciando a mata e todos que nela habitam,

qual uma cachoeira que despenca tão suave,

pois seu trinado tem o dom de enternecer.

O curió que vive sózinho lá no alto do galho,

emite gorgeios que o homem tanto aprecia,

ávido pela presa que anseia por liberdade,

e depois prende numa gaiola tão pequena,

tirando espaços de quem antes vivia livre.

E lá no alto da colina onde a brisa vem suave,

o nambu-chitã pia uma triste despedida,

quem sabe até num protesto bem choroso,

pois sabe que o homem lhe busca na moita,

não respeitando nem sua quentinha morada.

A araponga assanhada morando solitária,

solta seu canto que ecoa bem distante,

como se numa bigorna batesse sua fúria,

num protesto contra quem lhe assusta,

como que dizendo aqui sou dona do terreiro.

O joão de barro um arquiteto da natureza,

capricha na sua morada numa tóca escondida,

buscando na beira do rio a matéria preciosa,

para fazer a casinha onde terá seu ninho,

e atrair a namoradinha para criar os filhotinhos.

Passarada da minha infância onde curti a natureza,

escutei todos os gorgeios que me extasiavam,

de pássaros de lindas plumagens hoje em extinção,

pela sanha dos homens que não respeitam liberdades,

e dos que apreciava hoje restam só as saudades.

16-05-2010