Tempo doce
Tempo doce
"Na correnteza do rio
O ingá se debruçou"
Foi assim numa canção
Que um poeta escreveu
E eu ouvindo a canção
Senti tomado o coração
Pelo perfume e a cor
Do ingá lá do sertão
Descobri-me tão pequena
Ante tamanha emoção
Pois o sabor doce do ingá
Foi chegando de mansinho
Num barquinho de recordações
Daquele tempo feliz
Quando tudo era belo
Tudo era esperança
Mesmo nas horas tristes
Nas horas de trabalho
Trabalho tão necessário
Necessidade tão presente
Em toda a minha vida
Vida de quase tudo carente
Carencia amainada adocicada
Pelo suor e a fantasia
Impregnados de alegria
Por ninhos de passarinhos
Pés de melão e melância
Da cana que cobrava
O açúcar da fibra
Cortando a minha mão
Por ariticum amorinhas
Pessegueiros carregados
Canteiros de moranguinhos
Plantações de arroz de mandioca
Verduras de toda a espécie
E as flores de minha mãe
Por tocos de tábuas
Maravalhas serraguem
No chão da marcenaria
--- Há! Que trabalho árduo!
Nos sábados á tarde:
Selecionar e empilhar
Sobras de madeiras
Juntar pregos
Ensacar maravalhas
Varrer a serragem
Brigar
As brigas na hora de lavar as louças
Que nunca poderiam faltar
Pois sem as brigas
Não fariamos barulho
E sem barulho como iriamos
Todos os dias apanhar?
Por brincadeiras com a criançada
De lonas e cavalinhos de circo
Missas e piqueniques da Cruzada
Balas de leite e galhetitas castelhanas
"Ovos de mula " do padeiro "Bruno"
Pães e cucas do forno da minha mãe
Por carretinhas na decida
Nos domingos de manhã
Nos caminhos das colônias
Com o peso multiplicado
Por nós de pinho batata doce
Manteiga leite ovos frutas
E outras tantas coisas boas
Na volta ao entardecer
Pelo cansaço das brincadeiras
Na mata no campo no rio
No rio onde o ingá se debruçava
Florecia perfumava e adocicava
A simples felicidade da minha infância
E ainda é para mim
Fonte de inspiração e de paz
"Imagens da minha infância"
Stela Siebeneichler