SUTILEZAS

Ali, num canto, calmo, sereno, peregrino das artes,

Arquitetava travessuras, quieto, ativando a mente,

Sem pressa, como o pulsar de uma onda longe avistada,

Que vem mansinha repousar seu encanto,

E desmancha na areia sua graça de criança.

Antevia situações, criava artimanhas serenas,

Qual criança sapeca que arquitetava travessuras,

E num repente, sem ao menos ninguém sequer esperar,

Lá vinha ela, elaborada, minuciosamente trabalhada,

E o seu findar era o riso que ninguém conseguia conter.

Era assim seu temperamento, bem pensado, elaborado,

Criando sutilezas de criança num espírito de adulto,

Sem precisar o momento certo para suas travessuras,

Que vinham fortes temperadas com o sabor da graça,

Pois imprevisível e doce era o desfecho do que arquitetava.

Seu canto onde repousava seu corpo cansado,

Hoje não mais existe, ele partiu, foi bem mais longe,

Preparar sutilezas, quem sabe, numa dimensão elevada,

Em espírito preparado, pois doce foi sua existência,

E lá, onde não sei, quem sabe pode ainda ser moleque.

Sua casa, seu remanso, sua existência onde dormia sereno,

Foi atropelado, nem resquícios deixaram para ativar memórias,

E triste hoje contemplo somente espaços,

Onde foi seu reino e eu mero espectador de seus átos,

Lembro dele, tio Zuzú, heroi de todos meus momentos.

Minha homenagem saudosa prestada à meu tio herói, moleque arteiro num corpo de adulto, aprontando travessuras, inteligente, de tudo sabia um pouco, defensor da natureza, contemplativo de suas belezas.

16-12-2010