AMOR IMPLUME
Rumoreja lá fora, d´outro lado, a brisa fria,
Numa noite cinza de uma lua mais sombria
E no firmamento de um tom falecido
Por já o tempo de outrora haver padecido;
O choro, o pranto pelas flores mortas,
Arrastadas pelo vento forte até às portas
Da casa que aberta fica a espera
De um amor que partiu e foi embora
Sem gozar feliz daquela primavera,
Ah! Quem ficou sem ela, ficou e chora!
Minh´alma que tombou-se num vacilo,
Sem sorte, sem flores, sem rio tranquilo,
E já implora o coração a tua presença
Nesta noite em que te tem querença
E que ainda pode o calor erradiar do peito,
Secando as lágrimas que caem no meu leito,
Umidecendo, embrenham as fimbrias do virol
Que já de tão vultuosas ficaram frias
A espera da manhã e da luz do sol
Já cansadas das dores sombrias.
E vou escrutando as trevas, os vultos,
Por ficar despertos, sentimentos estultos,
Movo dum lado para o outro plangente
Em meio ao silêncio que zumbe estridente,
Busco achar nas pálpebras sono langoroso
Que vem, certamente, chegando lastimoso;
Envolto fico nas trevas brumosas,
Desamparado, longe do teu perfume,
Das lembranças de Àguas Formosas
E daquele amor ainda implume.
(YEHORAM)