Sonhos no varal

Braços erguidos, prendedor na boca, água pouca a lhe correr dos punhos.

Sonhos noturnos, molhados e torcidos, estendidos pela manhã no varal.

Impávido esforço, construindo a vida, sobre a tábua, força incontida e descomunal.

Empunhado aos amasso, entre mergulhos o compasso, sonora catedral.

Desata sorridente a peça encharcada, de pé, em frente ao tanque embebido.

Corpo curvado, corpo estendido, esforço desmedido, molhado avental.

Torce o braço, torce o punho, expulsa agua e sabão, bate ao vento em estalido,

Confere os esquecidos, antes de pendurar ao vento, mais um sonho no varal.

Alva reluz desdobrada nuvem, por vezes tingida.

Que aos teus olhos doces, algodão rosa perseguia.

Da mais linda face que há, entre o chão e a estrela guia.

Visualizava ampla a breve bruma fingida.

Tremulava colorido ao vento sul, semeando penugens.

Ataviadas pela veste quente das manhãs, como nuvens.

Seu perfume mesclado ao sonoro ruído, exalado.

Eram panos de onde nasciam soldados, enfileirados no varal.

Destemido empunhando alegorias em campo aberto,

Escoltando as flâmulas desfraldadas ao vento desperto,

Combatendo ao som do reco-reco, vencia esquadrões.

O miúdo de solitários sonhos escoltado por multidões.

Uma sonhadora e vitoriosa luta adolescia, digna descendência.

Aos olhos da mãe, em honrosa postura, copiosa continência.

Olho pranteado pelo suor escorrido, emudecido o reco-reco.

Enquanto admirava em devaneio amanhecido o miúdo discreto.