Aves de passo.
As perigosas loiras de esquina
Que nos relicários de seus decotes
Perfumaram minha juventude
Ao milagre dos beijos roubados
Que no dicionário dos meus pecados
Guarda sua pétala azul.
A impudica babá madura
Que no mapa-mundi de sua cintura
A criança que fui se despertou.
A flor de liz das cabeleireiras
Que trouxe o trem da primavera
E o trem do inverno me arrebatou
As flores de um dia que não duravam
Que não doiam, que te beijavam,
Que se perdiam.
Damas da noite que no banco de trás
de um carro, não perguntavam
se as queriam.
Aves de passo como lenços, cura fracassos
A misteriosa viuva de luto que suou comigo
Um minuto três andares no elevador.