República Feliz

Não queria aprender a crescer

Me negava a dormir sem minha chupeta

No natal, carregado de brinquedos

Chegava des do oriente o rei Melchor

Minha patria era um baú no desvão,

Um loro que dizia palavrão

As aventuras do gato com botas

Um pião, um globo uma mascara

Não existia televisão

As maletas eram pra ser exploradas

O mar estava cheio de tesouros

Na pança de um velho galeão.

República feliz sem segunda, sem acnés

Na provincia do Nunca Jamais

O dia que cumpri catorze despertei

Do sonho de chamar-me Piter Pan.

A vida era uma porta sem abrir

Os adultos falavam em voz baixa

O pós-guerra enferrujado nas navalhas

E gelava nas garrafas o anís.

A lombo de um pangaré de cartão

Cheguei mais longe que qualquer ginete

E ganhei o tour de França em patinetes

Sem ausentar-me do meu quarto

Era um luxo pecar,

E o porvir raptava crianças,

Como o velho do saco.

Por cada ave Maria, cinco saltos, piruetas

piadas, peidos e alegria.

República feliz,

Sem beijos, nem grana

baixo o sol impossivel do Hawai

O dia que cumpri 50 despertei

Do sonho de chamar-me Dorian Gray

As nuvens eram mapas de algodão

Não haviam morrido os deuses ainda

O mundo era um limão

E eu tinha pressa

Para estrear o coração.

Joaquin
Enviado por Joaquin em 18/06/2012
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