Som de flor colhida
A dor surda retumbava no peito
O peso do mundo dificultava a respiração
O próprio ar parecia pesar uma tonelada
Meus olhos já não enxergavam,
Era um breu completo que abraçava com gratidão.
Se pudesse nunca mais ver novamente
Minha alma não choraria por tantos anos.
Os olhos se apagaram aos poucos,
O brilho ofuscou-se.
Mas nada disso vi.
Ele se foi sozinho.
O calor deixou o corpo, o mármore gélido
Dissipou toda a energia acumulada,
Puro desperdício.
Me pergunto como teria sido se estivesse
Nos meus braços, e não estirado no chão.
A culpa é abrasadora.
Mas a dor ainda é surda.
Espero que tenham sido mãos afáveis,
De calor brando, a leva-lo consigo.
Pensar na solidão de seguir sozinho,
O aperto no peito. O gosto amargo do abandono...
A culpa é abrasadora.
O vazio concreto me atormenta.
Era ai que se deitava para dormir.
Por ali que corria. Aqui se espreguiçava.
Lembrança do teu olhar me faz sorrir.
Enamorado, cálido. Carinhoso. Honesto.
Mais puro amor. Sem preconceito a despeito de tudo.
A culpa é abrasadora... Não são mãos cálidas que me apertam o peito.